terça-feira, 8 de junho de 2010

Futebol, Múmias, Vampiros e Zumbis...

Hoje o que é mostrado na mídia em geral, é que só existem dois modelos possíveis de gestão no Futebol. Um debate, inócuo e sem fim, entre o que chamo (ou xingo) de “modelo patronal-reacionário dos Cartolas contra o modelo liberal-mercadológico dos especialistas da Modernidade”.

Ambos os modelos morreram! E se mostram a cada dia mais fúnebres, como zumbis que vivem do último suspiro do Esporte do Povo. Os velhos Cartolas aristocráticos mais parecem múmias que só faltam morrer em cargos de gestões quase vitalícias nos clubes, que só mudam a patota mais a classe de monstros decrépitos permanece a mesma a cada mandato. Já o novo modelo da “Modernidade”, que já matou o Futebol Inglês, hoje afunda em crises infinitas e dívidas incalculáveis, vide o caso Manchester United.

Esse debate lembra muito o “conflito” Democrata/Republicano nos EUA, PT/PSDB no Brasil, SPD/CDU aqui na Alemanha e assim por diante. Como se esses agentes fossem bem diferentes, mas se observarmos com cuidado o Sistema permanece o mesmo. Os americanos ainda invadem outros países, os cortes sociais ainda ocorrem na Alemanha e o FMI continua mandando no Banco Central brasileiro. Ou seja, o sistema permaneceu o mesmo, independente de quem venceu o “conflito”, e assim nada mudou.

No Futebol de modelo patronal dos Cartolas, eles são os donos. Como a velha e reacionária figura do Dom Eurico Miranda. Um Sapo-boi que mandava e desmandava como queria, vendendo jogador ou patrimônio sem nenhum controle ou auditoria. Quase uma figura medieval onde ele era o senhor absoluto do próprio feudo.

Já no Futebol Moderno, os donos são a empresas. São as MSI, Hick&Muse, Red Bull ou Glazers. São as grandes corporações que agora mandam e excluem. É a mercantilização total do Futebol, através de ingressos cada vez mais caros, entradas vips apenas para os ricos e o estupro das Tradições dos clubes com campanhas publicitárias que só me fazem vomitar.

Em ambos os modelos o último da fila é sempre Torcedor. Antes um simples servente a mercê da boa vontade do nobre e majestoso Cartola, e hoje com a “modernidade” um mero consumidor alvo dos vampiros das grandes corporações.

Agora nem só de Cartolas ou Corporações vive o mundo, não só de Zumbis, Vampiros ou Múmias que uma história pode ser contada. Existem muitas outras fábulas na imaginação humana, onde um outro mundo e um outro Futebol são possíveis.

Esse é o caminho da gestão coletiva do Futebol, onde os torcedores se tornam os legítimos donos. E nada mais justo, pois esse esporte como conhecemos hoje não existiria sem seus Torcedores, assim como uma Fábrica não pode existir sem seus operários.

A Torcida é a legítima e histórica dona do Esporte do Povo, e são os Torcedores os verdadeiros senhores do Futebol. Não se pode imaginar um Estádio sem torcedores, assim como não se pode conceber um oceano sem vida marinha.

Essa gestão coletiva e socializada já é uma realidade em muitos lugares, os torcedores do Manchester United insatisfeitos com as políticas excludentes dos Glazers fundaram o FC United em 2005, clube que foi já promovido 3 vezes na divisões inferiores inglesas. E onde todas as decisões são tomadas coletivamente desde da escolha do técnico, até a contratação de novos jogadores. Isso já ocorre aqui na Alemanha em vários clubes como o Roter Stern Leipzig ou o SV Mörsen-Scharrendorf.

Na antiga Alemanha Oriental esse tipo de gestão era comum através da Betriebssportgemeinschaft ou simplesmente “BSG” onde os clubes eram geridos coletivamente através das associações de classe locais. Por exemplo o Chemie Leipzig era gerido através do sindicato dos trabalhadores da industria química, já o FC Lokomotive Leipzig era administrado pelos trabalhadores ferroviários.

Recentemente Torcedores do Crystal Palace tomaram as ruas para exigirem de volta o clube como posse, que já estava prestes a ser vendido para mais uma corporação vampiresca.

A resposta ao Futebol Moderno não deve ser o retorno as correntes feudais das Múmias da Cartolagem. Os Torcedores devem exigir o que é seu por direito e tomar os clubes em assalto.

Se o Futebol é um Esporte Coletivo por definição, a sua gestão também deve ser da mesma forma. A gestão e propriedade de um Clube não devem nunca pertencer a uma casta de Cartolas ou a alguma empresa estrangeira de Vampiros, mas aos seus legítimos donos, seus torcedores que toda semana estão sempre lá, girando as catracas dos jogos.


5 comentários:

  1. Mas cara, no caso dos cartolas, tecnicamente a gestão seria dos torcedores, sendo os cartolas apenas representantes eleitos por eles.

    O próprio exemplo que tu mencionou, do Eurico, é prova disso. Tanto é que ele caiu.

    O problema talvez sejam os próprios torcedores, que se organizam mal, escolhem mal, se omitem, etc.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Porra Moscôso,

    Vc falou bem ..."Tecnicamente" é o termo!!!

    É só pensarmos um pouco sobre como são as eleições com essa Cartolagem. São verdadeiras piadas, onde em muitos clubes nem o sócio-torcedor tem direito a voto.

    Em muitos clubes nem eleição direta com os sócios existe, quem vota para presidente é só o conselho deliberativo.

    Quando falo sobre Gestão Coletiva, isso só é póssivel com um processo radicalmente Democrático.

    Isso não é imaginável com uma Casta Elitista de Cartolas ricos e gordos, que jamais deixariam um zé-da-esquina opinar em alguma coisa dentro do clube.

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  4. Só para reforçar o que o Fred disse sobre as eleições para presidência dos clubes, gostaria de lembrar que na época do Eurico no Vasco até os sócios já falecidos votavam e seus votos contavam a favor do Eurico Miranda.

    e nem se preocupavam em mudar o status de FALECIDO do sócio na votação...

    ridículo

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  5. muito bom o blog. Parabéns.

    Estamos linkando. Abraço

    http://futebolcoletivo.blogspot.com/

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