terça-feira, 18 de maio de 2010

A Indústria Cultural e o FUTEBOL.
















Pelo TorcidaGanhaJogo.blogspot.comum se tratar de blog mais aberto que não tem pretensões de cair no vício entediante e demasiadamente filosófico de debates “intelectualóides”, serei o mais breve possível na abordagem de uma linha de pensamento antes de iniciar a análise acerca do futebol.

No estudo acadêmico da Comunicação Social e da Cultura, a Escola de Frankfurt se sobressaiu das tantas outras, em vista os efeitos e fenômenos proporcionados pela Indústria Cultural. Os frankfurtianos geraram toda uma linha de pensamento que se propôs a analisar as interferências do Capital na produção de cultura e conseqüentemente de um imaginário social ideologicamente pré-formado.

Dentro dessa lógica, a Indústrial Cultural, se baseia numa regra a qual podemos aplicar a quase todos os processos criativos: a necessidade de uma reduzida “inovação” para conseqüente homogeneização de um público consumidor. Uma estrutura rígida de produção de mercadorias culturais que permitisse aos meios de comunicação tecer um quadro de público específico para cada tipo de produto, e com isso lucrar o máximo.

Onde entra o futebol nisso?

Para ajudar a ilustrar um pouco melhor, pegarei o exemplo recente da polêmica pesquisa da DataFolha sobre os torcedores do Brasil. Flamengo e Corinthians, disparados na frente, disputavam para saber quem tinha mais do que o outro na ordem das dezenas de milhões.

Pera lá, 33 milhões torcedores? Pergunte a algum torcedor flamenguista se ele já viu tanta gente assim nas arquibancadas do Maracanã. Com certeza ele dirá que o máximo nos últimos anos foi uma média de 40 mil torcedores por jogo.

Portanto, a quem interessa pesquisas como essas? São de fato “torcedores” aqueles que nunca foram ao estádio? O que é um “torcedor”?

Dentro desse processo, é importante delinear aqui a diferença clássica entre torcedores e consumidores de futebol. É uma dicotomia importante e urgente, já que o Futebol Moderno se alimenta dessa confusão de termos para se justificar. O Futebol Moderno, diga-se de passagem, não é nada mais nada menos que a maior forma de interferência da Indústria Cultural no JOGO que tanto amamos.

Portanto, deixamos aqui a clara definição que TORCEDOR é aquele que vai ao estádio, que vive o clube, que está presente. Ou seja, a definição mais clássica possível, já que o futebol estava lá antes do advento da TV ou do rádio.

Quando os meios de comunicação de massa se apoderaram, por sua vez, dos eventos esportivos (colocando aqui o futebol como o maior deles, principalmente no Brasil), ali criou-se uma nova categoria de pessoas que se envolviam com o futebol. Esses seriam os “consumidores”. Alcunha maldita que se estendeu e colocou lado a lado o cara que assiste o Flamengo num sofá em Roraima e o flamenguista que paga ingresso caro, apanha da polícia e tem que pegar ônibus à meia-noite após um jogo marcado para depois da novela global.

Nessa lógica que podemos então compreender qual a intenção de uma pesquisa como a da DataFolha. Não se delineia ali o perfil do torcedor brasileiro, e sim o do consumidor. Este, que por sua vez interessa único e exclusivamente aos agentes da Indústria Cultural dentro do futebol. São eles: as mídias (TV, rádio, sites) que transmitem os jogos e seus anunciantes, os fabricantes de materiais esportivos e os patrocinadores dos clubes.

Antes que surja por aí alguma argumento do tipo “os clubes só existem hoje por causa dessa tal Indústria Cultural”, quero deixar claro aqui que o que se passou foi exatamente uma “apropriação” do nosso futebol. Os clubes (e isso inclui o torcedor) hoje, antes de serem beneficiados com isso, são verdadeiros reféns. Um argumento que refute isso se torna tão leviano quanto o comentário de Wianey Carlet, comentarista esportivo gaúcho que classificou como “bobagem” torcedores que reclamavam dos horários absurdos em que eram obrigados a assistir o seu clube do coração, uma vez que esses foram preteridos por consumidores que só podiam assistir aos jogos após a novela das oito. Para Wianey, a Globo é quem paga a conta dos clubes.

O mesmo posso colocar para aquelas abusivas estampas de patrocínio que poluem cinicamente os mantos históricos dos clubes. Ou patrocínio nas axilas é algo aceitável para você?

Estendendo um pouco mais o debate, e voltando à regra citada ali em cima, quando trato da questão da “inovação” gostaria de usar um exemplo que até o flamenguista e corintiano mais assíduo devem se incomodar: a seleção dos jogos que serão televisionados e a cobertura “jornalística” de tais eventos.

Todo domingo ou quarta-feira os jogos transmitidos seguem uma linha bem rígida de seleção: obviamente, os clubes com maiores torcedores. Novamente vemos aí o porquê da importância da DataFolha para a Industria Cultural da bola. Pra que se arriscar a transmitir o clássico pernambucano quando transmitindo Flamengo e Barueri a audiência será dez, quinze vezes maior? Um exemplo mais assustador ainda: a grande final entre Cruzeiro e Estudiantes pela maior competição continental, a Taça Libertadores da América uma vez já foi preterida por um jogo sem-sal e costumeiro entre Corinthians e Flamengo.

Outros tantos fenômenos podem ser avaliados na relação Indústria Cultura/futebol, e sem dúvidas encontraremos em todas uma preferência ao “lucro” a cima dos verdadeiros motivos do futebol existir.

Complementando: ainda que seja um processo inevitável, já que vivemos numa sociedade inquestionavelmente capitalista, não há como deixar passar a crítica sobre essas questões uma vez que o futebol tem se adaptado a essas coisas, e não o processo inverso, que seria o mais lógico

No fim das contas, quem continua sofrendo com isso somos nós, torcedores de verdade, que carregamos o verdadeiro sentimento que fez o futebol ser o que é hoje, uma paixão das massas, que leva o homem mais duro e frio ao êxtase de um sentimento que só o JOGO lhe proporciona. Síndromes do Futebol Moderno.

Em breve voltaremos a tratar desses assuntos à medida que os absurdos do Futebol Moderno nos forçarem a tal.

NÃO AO FUTEBOL MODERNO.

3 comentários:

  1. Creio que o Coritiba faz parte do grupo de clubes prejudicados por esse processo.

    Utilizando o jargão da Escola de Frankfurt, o ímpeto excludente e homogeneizante da indústria cultural provoca a proletarização de muitos clubes do Brasil. Por proletarização dos clubes entendo que muitos clubes grandes -- entre eles, o Coritiba -- e médios são cada vez mais acuados pelo surgimento dos superclubes midiáticos (Flamengo, Corinthians e São Paulo) e pelo crescimento do número de "torcedores de sofá" em suas próprias regiões -- quantos torcedores paranaenses não se declaram "torcedores" dos times do Eixo?

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  2. Muito bom o texto Irlan...

    Mas muito antes da "Frankfurter Schule" apresentar essa crítica a Industria Cultural, Antonio Gramsci na Itália já tinha apresentado todos os pilares dessa Teoria, com o modelo de Infraestrutura e superestrutura.

    Quando me formei no Brasil, minha monografia final no curso de Economia, foi sobre o modelo de Gramsci em cima da Industria Fonográfica.

    Algo que hj podemos aplicar facilmente nessa Industria Moderna do Futebol.

    Aqui, na Alemanha já estou estudando os trabalhos de Walter Benjamin que ele publicou através do Institut für Sozialforschung da Escola de Frankfurt.

    A dica Irlan, é correr atrás de Gramsci e Benjamin para aplicar tudo isso em relação ao Futebol.

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  3. Exatamente, é verdadeira vergonha, eu como torcedor do Vitória Futebol Clube dividir lugares com pseudo-flamenguistas aqui no estado do Espírito Santo.

    Devemos separar os consumidores, dos fiéis torcedores. Os que não comparecem ao estádio pelo torpe motivo de estarem sentados confortavelmente em um sofá, assistindo futebol "internacional" não são torcedores de verdade.

    A mídia aqui no meu estado como expoente lógico do capitalismo, sequer divulga notícias convenientes do Vitória, clube mais antigo e único da capital, capital que diga-se de passagem é a segunda mais antiga do Brasil! Ao contrário preferem puxar os sacos de $ do "grandioso" futebol carioca e/ou paulista, cujos legítimos "torcedores capixabas" nunca sequer pisaram no estado mencionado, quiçá em um estádio de futebol.

    Vergonha, é a palavra!

    "ORGULHO EM APOIAR UM CLUBE LOCAL. GRANDE E VENCEDOR? NÃO. EM TER HUMILDADE DE CRESCER A SENTIR A CIDADE E SEU CLUBE!"

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