segunda-feira, 31 de maio de 2010

A criminalização das Torcidas Organizadas

Como quase tudo que ultrapassa o "correto" nessa sociedade "liberal" que vivemos, as Torcidas Organizadas, tais quais movimentos sociais, sofrem de um sério processo de criminalização.

Criminalização, entenda-se, uma tentativa injustificada de exterminar esse tipo de organização, taxando como criminosa, como uma facção, esquecendo que esse é um legitimo direito, de estar organizado em uma coletividade, de representar um grupo de pessoas, de representar uma torcida.


A velha tática da mídia hegemonica é tratar tais organizações de forma impessoal, sempre colocando os seus "erros" a frente das suas reivindicaçoes ou dos seus valores e fatores positivos.

Na maioria das vezes, quase que sempre, usa-se o método do "ofuscamento". Finge-se que nada há a ser falado ali, não há justificativas para os atos, não há argumentos de defesa ou na pior das demonstração de falta de democracia: "bandido não tem perdão".

É fácil comparar o trato que a mídia comercial dá aos Movimentos Sociais e o trato que dá às Torcidas Organizadas em geral.

Nos movimentos sociais, são colocadas sempre a frente das questões (e o foco das camêras) casos isolados que, na grande maioria das vezes, são causados por fatores que não estão no controle dos líderes. Destruição de objetos, atos isolados de alguns indivíduos, engarrafamentos durante passeatas e até conflitos com policiais, quando se sabe que na maioria das vezes estes estão infiltrados e são os maiores provocadores da violência, são elevadas a imensas manchetes, deixando para trás as reivindicações ali em pauta.

Nas Organizadas todo e qualquer ato isolado, dentro ou fora do estádio, se torna numa verdadeira odisséia dos pensamentos mais conservadores e desinformados pelo fim desses grupos. A mídia, obviamente, faz coro. Seja por conflitos corpo a corpo, depredações ou assassinatos (as vezes ocorridos horas após as partidas), aqueles que não enxergam nada de positivo ao ver jovens pobres organizados fazem questão de omitir que tudo aquilo é fruto de uma realidade: a marginalidade.

A criminalidade (que nasce por necessidade e se torna rotina) se infiltra nas Organizadas, mas todos fingem não entender isso. Fingem não compreender que ali está juventude sem qualquer perspectiva de vida ou de um futuro com mais dignidade acaba por aproveitar aqueles espaços e extravasar toda hostilidade que vive no dia-a-dia.

Culpar a Torcida Organizada por essas infiltrações pode ser plausível. Mesmo que seja difícil, talvez seja possível evitar que pessoas mal-intencionadas se infiltrem ali. Mas o problema não vai acabar.

Morre um, morre dois. A criminalidade ainda existe. A polícia mata um, mata dois. A cri
minalidade ainda existe. Prende um, prende dois. E ali ainda está a criminalidade.

A criminalidade da juventude é fruto de um contexto social de barbárie. Essa é a realidade. Não é um dirigente de organizada que vai evitar isso. Não é o papel dele. Porque ela vem de fora da torcida.

Ela surge da favela, dos guetos marginalizados dos grandes centros urbanos, sem hospital, sem escolas, sem dignidade.

E a mídia? Já deu voz aos que ela chama diariamente de "vandalos", "invasores", "bandidos" e "marginais"? A mídia tem dado espaço de resposta e de justificativas? A mídia tem deixado a sociedade a parte do que pensam os diretores das Organizadas?

É preciso compreender o contexto histórico que vivemos antes de criticarmos as torcidas organizadas, e além disso, compreendermos a nossa posição social diante dessa realidade. Na Europa, esse mesmo argumento de "exterminação da violência" foi o que originou a elitiz
ação e a exclusão de uma gama de torcedores que nem ao menos eram ligados aos movimentos de torcida.

Foi claramente um pretexto cínico para a garantir o processo de comercialização do futebol. Tornar os ingressos mais caros, encher os estádios de cadeiras reduzindo a sua capacidade, proibir adereços comuns como bandeiras e faixas, alegando que estes são perigosas armas, etc.

No Brasil, esse processo tem sido exaustivamente propagandeado como a solução definitiva para os nossos problemas, e só avaliando de fato o que isso representa saberemos
que posição tomar nessa guerra entre os TORCEDORES e o FUTEBOL MODERNO.

Um comentário:

  1. Participo de uma organização de torcedores e concordo com o texto, eu não entro em lugar nenhum pra roubar, pois posso comprar, mas muitos da torcida não podem e acabam roubando, e se eles roubam, não é culpa da torcida, eles que assumam seus atos e assumam as consequências.

    A maioria das organizadas mais se defendem que qualquer outra coisa...

    nós saimos de casa para ver o jogo e torcer, mas se algo sai do normal somos obrigados a intervir.

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