A Alma dos Aflitos

Uma das coisas que eu mais admiro e observo em uma torcida de futebol é a reação da mesma aos maus momentos do clube. Um caso que pude testemunhar e que me surpreendeu muito, começou naquele fatídico dia 26 de novembro de 2005. A maioria vê aquele jogo como um momento de glória para a equipe que saiu vencedora e com a vaga na divisão principal do campeonato brasileiro. Já outros, vêem como uma catástrofe, um dia a ser esquecido para os adeptos do clube que saiu como perdedor mesmo jogando em sua casa e tendo três jogadores a mais em campo e dois pênaltis a favor.

Este jogo que envolveu Náutico e Grêmio (este último, vencedor da partida), ficou conhecido como A Batalha dos Aflitos, e eu diria que não há nome mais apropriado para este dia, pois uma batalha começava ali, mas não no gramado, como todos dizem, e sim nas arquibancadas do estádio Eládio de Barros Carvalho, o popular Estádio dos Aflitos.

A verdadeira Batalha dos Aflitos, seria travada no ano seguinte, dentro da torcida do Clube Náutico Capibaribe, pois naquele momento era uma torcida desacreditada, magoada, destroçada, que não via estímulo nenhum para voltar aos Aflitos e apoiar o Náutico, a não ser o pelo amor ao alvirrubro de Recife que cada um carregava em seu peito.

Não me entendam mal, em momento algum estou desmerecendo a garra, determinação e a glória que teve o time do Grêmio neste jogo, porém acho que o maior exemplo de superação veio da torcida.

Eu estava presente em Recife, no ano de 2006, e digo a quem me perguntar que passei a admirar muito a torcida do Náutico, pois não posso dizer com certeza se torcidas grandes de clubes grandes do mundo inteiro teriam a mesma força, a mesma determinação e a mesma demonstração de amor que teve o povo Alvirrubro. Eles, mesmo num momento totalmente desfavorável, continuaram apoiando, se mobilizando para ajudar o clube num dos momentos mais difíceis de sua história. E é isso que eu considero como uma torcida que realmente ganha jogo, é aquela torcida que apóia o clube mesmo na adversidade como fez a torcida do Náutico naquele ano.

Em especial um grupo de torcedores, que se intitulavam “Alma Alvirrubra”, a barra-brava do Náutico e a pioneira desse estilo no Nordeste. Teve o seu auge, surpreendentemente, em 2006, onde lotaram os Aflitos em todas partidas da Série B e fizeram uma festa incrível, dita por muitos torcedores do Náutico como a maior já vista na história do clube, contra o Ituano, no último jogo do time na competição, junto com a torcida organizada do clube, a Fanáutico.

A Alma Alvirrubra, hoje também chamada de Curva Sul, continua apoiando o clube em todas as circunstâncias e lutando contra a cultura de não apoiar, de não cantar, dos torcedores brasileiros.

Eu considero estes os verdadeiros heróis, não só da Batalha dos Aflitos, mas são heróis do futebol, por manterem a paixão pelo clube mesmo numa situação completamente desfavorável.

"Em horas boas ser grande é consequência, no momento de adversidade ser grande é heróico"


Torcida do Timbu no último jogo da Série B 2006